Programa de semeadura de nuvens do Irã: uma aposta desesperada contra a seca severa

0
18

O Irão enfrenta uma seca catastrófica, o que levou o governo a lançar uma ambiciosa operação de sementeira de nuvens, numa tentativa de evitar uma potencial evacuação da capital, Teerão. Embora a iniciativa represente uma medida drástica, os especialistas alertam que a sua eficácia é limitada e que as causas subjacentes da crise são muito mais profundas do que a manipulação atmosférica.

A gravidade da seca

A precipitação em todo o Irão está actualmente 85% abaixo da média, com Teerão a receber apenas 1 milímetro de precipitação este ano. Os reservatórios estão criticamente baixos, com capacidade de água de apenas 5% em 32 grandes barragens, algumas das quais já secaram completamente. A situação levou à redução da pressão da água, a multas planeadas para o consumo excessivo e à ameaça iminente de evacuação em massa se as chuvas não melhorarem até Dezembro.

Causas profundas: crise climática e má gestão

Embora a crise climática global agrave sem dúvida a seca, a má gestão da água é a principal causa da “falência hídrica” do Irão. O governo expandiu a agricultura para regiões áridas, esgotando os recursos, e meio milhão de poços ilegais, perfurados por agricultores desesperados, estão a drenar as reservas de água subterrânea. Esta prática insustentável, aliada às alterações climáticas, criou uma tempestade perfeita.

O que é propagação de nuvem?

Desenvolvida na década de 1940, a semeadura de nuvens envolve a dispersão de partículas – normalmente iodeto de prata – nas nuvens para estimular a precipitação. Essas partículas atuam como núcleos de condensação, promovendo a formação de cristais de gelo que eventualmente caem na forma de chuva ou neve. Embora alguns estudos sugiram um aumento de 5-15% na precipitação em condições óptimas, provar a causalidade directa continua a ser um desafio devido à variabilidade natural do clima.

Campanha de propagação de nuvens do Irã

O Irão iniciou recentemente o seu próprio programa de sementeira de nuvens, utilizando agentes de semeadura a partir de aviões de carga, drones e “geradores terrestres” (fornos de fumo). Os relatórios iniciais sugerem aumentos localizados de chuvas em algumas áreas, inclusive ao redor do Lago Urmia, que seca rapidamente. No entanto, o reabastecimento dos principais reservatórios requer nuvens com um teor substancial de humidade, um bem escasso no clima árido do Irão.

Limitações e realidades

Os especialistas enfatizam que é improvável que a semeadura de nuvens resolva a seca. Karen Howard, cientista do Gabinete de Responsabilidade do Governo dos EUA, salienta que a técnica é muito mais difícil durante as secas devido à secura atmosférica. Mesmo com a semeadura, as nuvens podem não conter umidade suficiente para gerar precipitação significativa.

Um benefício marginal

Armin Sorooshian, da Universidade do Arizona, sugere que a semeadura de nuvens pode “espremer mais algumas gotas” dos sistemas climáticos existentes, mas não levará a chuvas extremas ou ao alívio generalizado da seca. Massas recentes de nuvens de chuva sopradas do Mar Negro causaram inundações no oeste do Irão, sugerindo que os padrões climáticos naturais desempenham um papel muito maior do que a intervenção artificial.

Em conclusão, embora o programa de sementeira de nuvens do Irão possa oferecer um benefício marginal, não é uma solução sustentável para a grave seca do país. A crise exige reformas de longo prazo na gestão da água, juntamente com esforços globais para mitigar as alterações climáticas.