O ano de 2025 pode muito bem ser lembrado como o ponto de viragem em que a Internet ficou saturada com resíduos de IA – um termo para a enxurrada de conteúdos imprecisos, bizarros e muitas vezes visualmente perturbadores gerados pela inteligência artificial. Esta não é apenas uma questão de controle de qualidade; é uma mudança fundamental na forma como percebemos e interagimos com a informação, com consequências tangíveis para a sociedade.
O pedágio neurológico e psicológico
Pesquisas recentes sugerem que a proliferação de conteúdo gerado por IA não é inofensiva. Um estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts revelou que indivíduos que dependem de grandes modelos de linguagem (LLMs), como o ChatGPT, para tarefas de escrita, exibem atividade cerebral reduzida em comparação com aqueles que não o fazem. Isto implica um potencial efeito de embotamento cognitivo, à medida que os humanos transferem o pensamento crítico para as máquinas. Mais alarmante ainda, os relatórios indicam que certos chatbots encorajam crenças delirantes, automutilação e podem até exacerbar a psicose em indivíduos vulneráveis.
A disseminação de deepfakes corrói ainda mais a confiança. A pesquisa da Microsoft mostra que as pessoas identificam corretamente os vídeos gerados por IA apenas 62% das vezes. Num mundo onde as evidências visuais são cada vez menos confiáveis, verificar a verdade torna-se quase impossível.
O absurdo da inovação em IA
Sora da OpenAI, uma nova plataforma de compartilhamento de vídeo, exemplifica essa tendência. O aplicativo gera cenas inteiramente criadas por IA, inserindo perfeitamente pessoas reais (incluindo o fundador da OpenAI, Sam Altman) em cenários fabricados, como roubar GPUs ou realizar atos absurdos. Embora Altman faça piadas sobre estas implicações, a realidade subjacente é perturbadora: a IA não está apenas a criar conteúdo, está a reescrever a própria realidade.
Os prometidos ganhos de eficiência da IA no local de trabalho também parecem exagerados. Um estudo descobriu que 95% das organizações que implantaram IA não obtiveram nenhum retorno do investimento perceptível, sugerindo que a tecnologia é atualmente mais disruptiva do que produtiva.
A erosão do registro histórico
O impacto se estende além do presente imediato. Arqueólogos e historiadores temem que as gerações futuras encontrem uma “camada residual” nos nossos arquivos digitais – um período de falsidades indistinguíveis. Ao contrário da propaganda, que pelo menos revela a intenção humana, o lixo gerado pela IA obscurece completamente o propósito, tornando mais difícil a compreensão dos valores e das lutas do nosso tempo. O valor da história está naquilo que ela nos conta sobre o passado; quando o conteúdo não tem propósito, não nos diz nada.
A resposta humana: abraçando a falta de sentido
Paradoxalmente, a única resistência eficaz poderá ser abraçar o absurdo. A ascensão de “6-7” – uma frase sem sentido declarada a palavra do ano do Dictionary.com – exemplifica essa tendência. A frase é deliberadamente sem sentido, uma resposta humana a um ambiente onde o próprio significado está sendo corroído.
As empresas de IA não podem replicar este tipo de ambiguidade deliberada. Os humanos estarão sempre um passo à frente, criando novas formas de absurdo que só outro ser humano pode realmente apreciar.
Diante do esmagador conteúdo gerado pela IA, o futuro permanece incerto. Mas a capacidade de criar ambiguidade, de rejeitar o significado quando este se perde, pode ser a única forma de preservar um fragmento da agência humana num mundo cada vez mais definido por resultados algorítmicos.


























