Droga inovadora tem como alvo o autismo, a doença de Alzheimer e o câncer cerebral por meio do controle do óxido nítrico

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Uma nova abordagem para tratar o transtorno do espectro do autismo (TEA), a doença de Alzheimer e até mesmo cânceres cerebrais agressivos está ganhando impulso graças à pesquisa inovadora liderada por Haitham Amal, professor associado da Universidade Hebraica e professor visitante da Harvard Medical School. O seu trabalho, centrado no controlo dos níveis de óxido nítrico no cérebro, já garantiu a designação de medicamento órfão da FDA para a síndrome de Phelan-McDermid (TPM), um subtipo de autismo, e está prestes a entrar na Fase 1 dos ensaios clínicos já em 2026.

A crescente prevalência do autismo e a ligação do óxido nítrico

De acordo com dados de 2022, aproximadamente 1 em cada 31 crianças apresenta agora sinais de perturbação do espectro do autismo – um aumento significativo desde 2000. A investigação de Amal, originada do seu trabalho de pós-doutoramento no MIT em 2015, identificou uma produção anormal de óxido nítrico no cérebro de indivíduos com PEA. Esta descoberta, inicialmente publicada na Molecular Psychiatry, foi posteriormente confirmada como tendo um efeito causal, impulsionando o desenvolvimento de uma nova classe de medicamentos de moléculas pequenas.

O mecanismo central envolve a inibição seletiva da sintase do óxido nítrico neuronal. Isto visa reduzir a produção excessiva de óxido nítrico resultante de mutações genéticas, revertendo assim os défices neuronais e comportamentais observados no autismo. Ao contrário dos medicamentos existentes para o controle dos sintomas, como a risperidona, que apresentam efeitos colaterais substanciais, esta abordagem aborda diretamente os mecanismos patológicos subjacentes.

Além do autismo: visando o câncer e a doença de Alzheimer

A empresa de Amal, NeuroNOS, está desenvolvendo um medicamento de dupla ação contra o glioblastoma, um câncer cerebral mortal. O mecanismo vai além da simples inibição do óxido nítrico; também danifica o DNA do tumor. A ligação entre o óxido nítrico e o câncer decorre de mutações genéticas que desencadeiam a superprodução de cálcio, ativando ainda mais a sintase do óxido nítrico.

A mesma abordagem de moléculas pequenas está a ser adaptada para a doença de Alzheimer e a demência temporal frontal, com o objectivo de requerer o estatuto de medicamento órfão num futuro próximo. O potencial para aprovação acelerada através do programa de medicamentos órfãos da FDA proporciona um caminho simplificado para estas terapias.

Fatores Ambientais e Diagnóstico Precoce

Pesquisas recentes destacam uma ligação crítica entre a poluição do ar e o aumento do risco de TEA. A equipe de Amal descobriu que a exposição a partículas finas (PM2.5), incluindo óxido nítrico, induz fenótipos semelhantes aos do autismo em organoides humanos. Esta descoberta garantiu uma doação de US$ 17 milhões do Instituto de Medicina Regenerativa da Califórnia para investigar mais a fundo o papel dos fatores ambientais nos distúrbios do neurodesenvolvimento.

Além disso, em colaboração com a Point6 Bio, o laboratório de Amal está desenvolvendo um exame de sangue simples para o diagnóstico precoce do autismo, revolucionando potencialmente as estratégias de detecção e intervenção. Esta ferramenta de diagnóstico é considerada por Amal tão importante, senão mais, do que qualquer potencial Prémio Nobel.

Cronograma de Administração e Desenvolvimento

O medicamento para TEA será administrado na forma de pó adicionado a alimentos ou bebidas, após estudos bem-sucedidos de faixa de dose em cães e ratos. O medicamento para glioblastoma está mais atrasado em desenvolvimento, mas mostra resultados pré-clínicos promissores.

“Desenvolver um medicamento e um diagnóstico biológico para o autismo é ainda mais importante para mim, a nível pessoal, do que um Prémio Nobel”, diz Amal. “Acho que [nosso medicamento de pequenas moléculas] dá esperança a milhões de famílias e crianças”.

A convergência de avanços científicos, vias regulatórias aceleradas e terapias direcionadas posiciona o trabalho de Amal como um momento crucial na luta contra distúrbios neurológicos e de desenvolvimento. O impacto a longo prazo destes avanços ainda não foi visto, mas as descobertas iniciais oferecem um caminho claro para tratamentos mais eficazes e diagnósticos mais precoces.